segunda-feira, 10 de maio de 2010

Castor de Andrade - Parte III

Tímido, entro na sala em que o contraventor me aguarda. A impressão que tenho é que Castor está menos
receptivo do que no primeiro contato telefônico. Antes, me parecia mais humano. Agora, o pragmatismo
torna-se mais visível em sua postura. Principalmente quando demonstro insegurança para ligar o gravador, emprestado de uma amiga.

- Senhor Toscano, vamos deixar essa entrevista para outra hora! Tempo é dinheiro. Não tenho tempo a perder! Sentenciou, sem pudor, me deixando atônito.

-Doutor Castor, não sei o que aconteceu com o gravador. Será que o senhor pode me ajudar? Perguntei, destilando um misto de ousadia e irreverência, para tentar ganhar tempo.

-Senhor Toscano, não entendo de gravador. Respondeu, seco, o contraventor.

-Doutor Castor, vou trocar as pilhas, vai funcionar, com certeza. Disse, nervoso, revirando a bolsa fotográfica.

O gravador, enfim, funciona com as pilhas novas. Inicio, assim a entrevista com um personagem que se revela interessado em falar e ser ouvido. E, nesse aspecto, me coloquei inteiramente à sua disposição. Castor de Andrade sempre foi um excelente orador. Com raciocínio rápido e inteligente, conduziu a entrevista sem exigir muito de um aprendiz de jornalista, ávido, não somente pela história de um contraventor, dirigente de clube de futebol, mas pelo "artista", que sabia aproveitar-se do painel  jornalístico para montar o seu próprio espetáculo. Nesse aspecto, Castor, era quase um gênio da comunicação.

Sobre o Bangu Atlético Clube, Castor lembrou da grande tragédia do seu empreendedorismo futebolístico, quando levou o clube à decisão do campeonato brasileiro de 1985. Na grande finalíssima, em uma única partida decisiva, o time perdeu o título nos penaltis, dentro do Maracanã, surpreedentemente, lotado. No maior estádio do mundo se viam bandeiras de Vasco, Flamengo, Botafogo, Fluminense, America, Madureira, São Cristóvão, Portuguesa, Olaria e outros. O Coritiba, do técnico Evaristo de Macedo, fez o primeiro gol com o jogador Lela, pai dos jogadores Richarlyson do Atlético Mineiro e Alecsandro do Vasco da Gama. O Bangu empatou. Nas cobranças de penalidades, que apontariam o grande campeão, um grande azar...

"O Ado era um jogador maravilhoso. Sem ele não teríamos chegado à final do brasileiro de 1985, contra o Coritiba. Foi um grande azar. O menino chorou muito no vestiário, tive que consolar o jogador", lembrou Castor que, no final da década de 1970, iniciava projeto para tornar o Bangú o quinto grande clube de futebol do Rio de Janeiro. Nesse período jogaram pelo clube jogadores como: Pedro Rocha (ex São Paulo), Marco Antônio (ex Flu e seleção), Renê (ex zagueiro do Vasco), Luizinho das Arábias (ex ídolo do Flamengo), Perivaldo (ex Botafogo), Mauro Galvão (ex Internacional), Gilmar (ex goleiro do Corinthians), Mario (ex apoiador do Flu), Claudio Adão (ex Flamengo), Marinho (ex América Mineiro). Na decisão do brasileiro o Bangu jogou com Gilmar, Marcio Nunes, Mauro Galvão, Oliveira e Baby; Israel, Mario e Lulinha; Marinho,  Claudio Adão e Ado...